quarta-feira, outubro 22, 2008

Contos, livros e um vicío.


The Little Mermaid by Vilhelm Pedersen. Fonte: wikipedia


Hoje, estava a ler o texto entitulado "ERRATA COM BLAKE E MORTIMER" no Abrupto do José Pacheco Pereira, e lembrei-me de onde nasceu o meu gosto pelas histórias, contos, e pelos livros. Foi na escola primária.

Há uns três ou quatro anos atrás recebi os arquivos da minha avaliação na escola primária. Uma das minhas professoras da primária, pensou que seria melhor me entregar estas avaliações do que as colocar no lixo. Agradeço-lhe profundamente esse gesto, pois decobri que certos aspectos da minha personalidade, já emergiam vincadamente nessa altura. Posso dizer, que dos meus onze anos, até aos meus quinze/dezasseis anos, tive um período que foi bastante diferente. Nesse período intercalar perdi algumas das características que tinha com os meus seis/sete anos. Não tinha qualquer interessse na leitura, não gostava de português, muito menos de outras línguas. Sempre gostei, de geografia, história e ciências naturais.

Mais tarde, mudei radicalmente. Ainda me lembro, de excertos das minhas aulas de português no 10º e 11º ano. Em especial, as aulas em que se estudavam os diferentes géneros jornalísticos. Assim, nasceu o meu gosto pela leitura de jornais. Primeiro ao fim de semana, depois, quando fui para a universidade, diariamente. Ainda hoje, há três jornais que considero de referência: o Público, o Diário de Notícias e o Expresso (algumas partes).

Pela mesma altura (10º/11º ano), li vários clássicos da literatura portuguesa, mas nomeio apenas os dois mais populares: "As viagens na minha terra" e "Os Maias". São dois livros muito bons, na apreciei a sua leitura, mas hoje delício-me com eles. Penso que estes dois livros são complexos para aquela idade. Pois lembro-me que a maioria dos meus colegas não leram os livros, achavam "As viagens" um livro chato e "Os Maias" demasiado descritivo. Estudaram-nos apenas por aqueles resumos que as editoras publicam... ( e que deveriam ser banidos). Mas os currículos escolares talvez devessem optar por outros títulos, mais apelativos e estimulantes para aquela idade (dos mesmos autores, ou de outros). Estudando-se apenas excertos destas obras, introduzir os autores, localizá-los na época literário, apresentar o seu significado, etc. "As viagens na minha terra" é uma obra prima da literatura portuguesa, mas apenas pode ser compreendida em idade adulta. Hoje, imagino-me a fazer a viagem de Garret rio acima!

Voltando atrás, nas minhas fichas de avaliação trimestrais da escola primária, vem escrito que eu gostava de ler, interessava-me por histórias, e tinha alguma imaginação nas redacções. Infelizmente, na altura eu não tinha acesso a livros devido aos escassos recursos dos meus pais. Mas achei interessante, eu já gostava de ler, e gostava de histórias.

Eu lembro-me de gostar de ler histórias e de gostar de programas de desenhos animados em que se contavam histórias. Por exemplo, o pequeno panda chamado "tao-tao", a quem a mãe panda contava uma história em cada episódio. Naquela altura apareceram mais algumas séries de desenhos animados deste género, como as "Fabulas da Floresta Verde", o "Bel e Sebastião" (a procura incansável da mãe!) e outros dos quais eu não me recordo do nome.


Fonte: YouTube

Após o meu 10º/11º ano, quando já trabalhava em "part-time" comecei a comprar e a ler livros. Quando fui estudar para o Canadá, aprendi inglês, e para o melhorar comecei a ter contacto com livros juvenis de alguns autores como C.S. Lewis (ainda não existia tradução em português das suas Crónicas de Nárnia) e Tolkien. Iniciei também a minha leitura por autores como Hemingway, Steinbeck, Faulkner, Virginia Woolf, Charles Dickens, Joyce, Alice Munro, entre muitos outros.

Actualmente a minha biblioteca deve ter cerca de 1000 livros, é modesta, mas considero-a um tesouro. Eu tenho o vicío de comprar livros, uma paixão por bibliotecas e livrarias, onde passo horas a fio. Aprecio muitos autores, detesto outros, outros talvez venha a aprender a gostar. Sim, eu penso que certos livros, só nos cativam a partir de determinada idade, e mais, a leitura de um mesmo livro quando em jovem, tem outra dimensão e outra interpretação quando lido em adulto. A leitura, mostra-nos como a experiência de vida nos faz olhar para o mundo de uma outra forma. Gostaria ainda de acrescentar que considero que se existem prémios Nobel bem atribuídos, penso que os da literatura são um deles.

Ao ler o artigo de JPP, onde ele menciona os Contos de Hans Christian Andersen, que só muito recentemente, tive a oportunidade de ler (por versões traduzidas para o inglês, onde existe uma maior variedade de escolha). Para minha surpresa, estes contos como JPP diz são na sua maioria "terríveis". Quem conhece as histórias originais da "sereiazinha" ou do "soldadinho de chumbo"? A maioria destas histórias não termina com o tradicional "e viveram felizes para sempre", muito pelo contrário... Os contos de Anderson são muito mais tristes do que por exemplo os contos dos irmãos Grimm.

No mesmo artigo, JPP refere autores que para mim são muito difíceis de ler, é necessário muito tempo para compreeder por exemplo "Os Lusíadas" de Camões, "A Divina Comédia" de Dante, ou os outros poemas épicos como a Ilíada e a Odisseia de Homero e a Eneida de Virgílio. Eu já consegui ler cerca de 70% dos Lusíadas, é uma obra memorável, mas de uma complexidade tremenda. O mesmo se passa com os outros livros aqui referidos. Sempre que me ponho a ler um destes livros tenho a necessidade de estudar, desde mitologia e história greco-romana, filosofia, geografia, etc. Infelizmente, o tempo é um recurso escasso, mas sei que conseguirei terminar de ler cada um destes livros (incluindo a bíblia e o Alcorão), pois vale a pena! Eu penso que a maioria das pessoas que diz ter lido estes livros, ou os leu na diagonal, ou leu apenas partes... dúvido é que os tenham lido na íntegra, de uma forma completa, integrada, e compreendida.